domingo, 4 de outubro de 2009

Jung: Individuação e a educação infantil.




Remexendo os meus livros, encontrei um estudo interessante que adquiri em 2003, trata-se de uma publicação decorrente de uma tese de doutorado que procura fazer uma análise da relação entre professor e aluno na ótica de Jung. Jung foi um psiquiatra suíço que desenvolveu a psicanálise pós-freudiana, denominada psicologia analítica, e sua teoria exerceu influência em vários campos, entre eles, a história, a religião e as artes. O livro relaciona a teoria de Jung com a educação e procura analisar a relação entre professor e aluno. Uma parte que achei muito interessante do estudo é o conceito de individuação e a sua relação com o aluno. Segundo Jung, "Individuação significa tornar-se um ser único, na medida em que "individualidade" entendemos nossa singularidade mais íntima, última e incomparável, significando também que nos tornamos o nosso próprio self. Podemos pois traduzir "individuação" como "tornar-se a si mesmo" ou "o realizar-se do si mesmo"." O autor enfatiza que individuação é diferente de individualismo, pois individualismo significa acentuar e dar ênfase a supostas peculiaridades, em oposição a considerações coletivas, já a individuação significa a realização melhor e mais completa das qualidades coletivas do ser humano, um processo pelo qual a pessoa torna um ser único que de fato é, a consideração adequada das peculiaridades individuais e não o seu esquecimento. Mas o que isso tem a ver com a escola, o aluno e o professor? Como podemos contribuir para o processo de individuação da criança na escola? Partindo da premissa de que a escola, nos dias de hoje em que é cada vez maior a demanda por uma educação de massa, se constitui um espaço de educação coletiva e talvez seja o local em que a primeira etapa pela qual se desenvolve a individuação. Um processo dialético em que a coletividade contribui para desenvolver a individualidade as características peculiares de cada criança. Olhando uma turma com uniformes iguais, vemos uma unidade, mas toda professora que conhece a sua sala de aula e seus alunos percebe que cada um é de um jeito. A escola, portanto, é um espaço importante para que cada criança descubra o que te faz diferente dos outros e ao mesmo tempo a torna parte de um todo. Neste sentido, o professor deve ter a sensibilidade de enxergar as diferenças de cada aluno, respeitando as características individuais e considerando-as em sua didática sem, contudo, permitir o isolamento. Fazer um arranjo das peculiaridades de cada um aos valores coletivos que dão a noção de grupo. Segundo ainda Jung "A individuação deve oferecer um resgate de si mesmo, isto é, deve gerar valores que sejam um substituto equivalente de sua ausência na esfera pessoal coletiva. Sem essa produção de valores, a individuação final é imoral.." Como diz uma educadora que conheci com muita experiência na educação infantil, é preciso enxergar os pontos de luz de cada criança para iluminar o todo. Não existe uma luz que ilumina mais do que outra, e sim um conjunto que torna a sala e a escola um lugar especial e iluminado. A individuação é um processo que torna uma pessoa única e, ao mesmo tempo, parte de uma unidade. Uma escola inclusiva e aberta e a sensibilidade do professor podem tornar este processo enriquecedor e cheio de aprendizado.
Para quem quiser aprofundar no assunto existe material farto, este texto oferece apenas um recorte despretensioso de uma pequena parte da complexa relação entre a teoria Junguiana e a educação. Serve apenas para aguçar a curiosidade daqueles que desejam entender mais sobre o assunto, sem o tratamento científico adequado, mas que não deixa de conduzir a uma reflexão sobre a prática pedagógica.