segunda-feira, 31 de maio de 2010

Novo modelo pedagógico


A educação básica brasileira urge por um novo modelo pedagógico que envolva mais os alunos com o aprendizado. Não é uma tarefa fácil e dentro das dimensões e dos desafios do nosso município, conseguimos ter a noção de que esta tarefa não é nada simples. Mudança requer alteração de um estado confortável rumo a um caminho de incertezas, isso atordoa qualquer ser humano em qualquer atividade profissional ou pessoal. Por que temos de repetir antigas fórmulas e fazer sempre da mesma maneira? Qual o risco de inovar e experimentar novas abordagens pedagógicas? Por que não criar a partir das dificuldades que enfrentamos diariamente? A realidade está mudando rápido e necessita de disposição para novas perspectivas educacionais. Precisamos estudar mais e nos apropriar dos recursos da pedagogia, mas nada adiantará se nos acovardarmos e preferir a repetição que nos cega e nos robotiza diante dos desafios de aprendizado dos alunos. E a Coordenação Pedagógica, o que pode fazer neste contexto? Quais instrumentos, orientações e planejamentos podem interferir neste processo? Que tipo de contato humano gera a energia necessária para começar esta mudança e quais são as atitudes que precisamos? Perguntas pertinentes.
Nós educadores precisamos mais do que denunciar as faltas, lacunas e injustiças. Chegou a hora de querer assumir o comando do processo educacional, sem esperar receitas a serem seguidas. Fazer aquilo que deve ser feito, não importando o desacreditar dos outros, mas sim o "sentido" que aquela ação ou atitude produz em nosso íntimo. Combina com o que acreditamos, então estamos no caminho certo? Incomoda, aí deve ser repensado. Precisamos deixar mais claro o que desejamos de cada professor, medir o esforço de cada um, premiar aqueles que merecem e orientar os que não conseguiram. Fazer a roda girar na direção certa, priorizando a interação humana entre aluno e professor, entre aluno e colegas, como um momento especial em que o conhecimento aflora e sedimenta. Acho que podemos mais na educação, principalmente no que diz respeito ao modelo pedagógico.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Semana Difícil


Esta semana foi difícil e pesada. Não é nada da Secretaria de Educação... No sábado passado fui comunicado de uma triste notícia. Havia falecido um primo-irmão e amigo de infância. Fomos criados juntos, éramos da mesma idade e foi doloroso ir ao enterro em Belo Horizonte e me juntar a dor dos amigos e da família. Ele era meu padrinho de casamento, eu também fui padrinho dele. Além disso, sou padrinho da sua filhinha de 4 anos. O Kal, como era conhecido, tinha uma grande alegria e vivia a vida intensamente. Uma amizade de ouro. Era daqueles amigos que temos certeza de poder contar em qualquer situação. Refleti muito esses dias sobre o verdadeiro sentido da vida e o que realmente é importante. Cheguei a conclusão de que as vezes damos valor a coisas que não tem a menor importância e que deixamos de lado outras vezes coisas preciosas como as nossas amizades e a família. Fiquei meio abatido esta semana e muita gente confundiu as coisas e disseminaram até que eu estava saindo desanimado com a Secretaria. Estava triste com a perda de uma pessoa muito importante na minha vida, momento de luto. A educação é uma das poucas certezas que tenho na minha vida. É o que eu gosto de fazer e faço com prazer, por isso quero estar envolvido com a educação, em qualquer nível, até morrer. Minha motivação se renova a cada vez que entro em uma escola e percebo a importância da educação na vida das crianças ou quando vejo pessoas que vieram de baixo e com um curso superior começam a crescer e a transformar a sua realidade. A educação é uma paixão que tenho, independente de cargos ou funções.

Existe uma coisa que acontece comigo que não sei explicar. Quanto mais dificuldades vejo na educação municipal, mais problemas aparecem, mais eu fico motivado em mudar as coisas. Não sei de onde vem esta força, mas estou certo que ela é real. Hoje, visitei a Escola Maria do Carmo Ribeiro, conhecida por ter entre seus alunos muitas crianças em situação de risco social. Conversamos com a diretora sobre as dificuldades, ouvimos histórias inenarráveis que nos deixam assustados. Começamos a pensar em um trabalho direcionado para alunos com dificuldade de aprendizagem e chegamos a conclusão de que faltava um lugar. O Bairro não possuía um espaço para este trabalho, ao contrário dos Programas de Educação Integrada do Barquinho Amarelo com o espaço do Chitão e o Geraldo Marques Cevidanes com o SESI. Mas precisávamos pelo menos de uma sala para o contra turno, pois podíamos desenvolver as outras atividades na praça. Chegou alguém e falou da igreja. Fomos ver o local e fiquei entusiasmado com a possibilidade. E assim as dificuldades vão se transformando em possibilidades. Porque difícil mesmo não é vencer os desafios da realidade educacional, difícil é perder um amigo, um filho e pai de família exemplar. Para isto, basta acostumar com a perda e assimilar a tristeza.


OBs: Estou diminuindo o ritmo de publicações e optado por manter atualizado o twitter. Para quem ainda não conhece, trata-se de um micro blog com postagens de até 140 caracteres. Acredito que é mais ágil e permite boa interação.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Vivendo e aprendendo



Muitos dias sem postar no blog, mas continuo sempre atualizando o twitter, pois é mais prático e dinâmico.
Entretanto gostaria de fazer um pequeno relato sobre a experiência que vivenciei hoje na rede municipal. Ouvi da diretora da escola a sua grande preocupação em relação a um aluno específico que tem um comportamento agressivo e a família, mesmo recebendo intimações do conselho tutelar, não se mostrava comprometida em acompanhar o filho na escola. O aluno recentemente agrediu uma professora grávida e isso gerou uma enorme comoção na escola. Ouvindo o relato percebi que eu deveria conhecer mais esta realidade de perto, pois qualquer decisão que eu tomasse naquele momento seria precipitada. Resolvi tomar uma atitude heterodoxa que me tirou da rotina. Fui para dentro de sala e assisti aula na turma deste aluno como um mero ouvinte. A professora nem me apresentou, fui entrando e sentei na última carteira. Fiquei um pouco desconfortável, pois a cadeira era apropriada para criança, mas me ajeitei do jeito que pude. Em um primeiro momento confesso que somente lembrava dos meus tempos de criança, aquela visão do quadro verde lá de trás e o clima de sala de aula me transportaram no tempo, me vi aluno novamente e passou um filme na minha cabeça. Aos poucos fui sentindo a realidade e percebendo os alunos.
A professora fazia um cartaz com a ajuda de cinco ou seis alunos e os outros deveriam copiar a tarefa do quadro, digo deveriam porque ninguém ficava no lugar e os que ficavam estavam fazendo outra coisa, conversando, desenhando ou simplesmente brincando. Resolvi me aproximar de um aluno que copiava atentamente a tarefa do quadro. A tarefa trazia mais ou menos o seguinte enunciado: "Escreva as palavras abaixo e liste aquelas que possuem encontro consonantal. Perguntei ao aluno concentrado se ele sabia me dizer o que era o tal encontro consonantal. Ele me respondeu rápido sem tirar os olhos do quadro: sei lá! Perguntei a outros alunos, sempre em voz baixa, mas obtive a mesma resposta. Comecei a entender porque a maioria demonstrava desinteresse. Fazer uma coisa que não faz o menor sentido sempre gera desinteresse, fica mecanizado e sem graça. Como Rubem Alves preconizava: o conhecimento deve ser ferramenta ou brinquedo, ou seja, serve para resolver um problema ou serve para dar prazer e distração. O sentido da informação é que a torna parte do nosso arcabouço de conhecimento. Sem isso, é nada. Mas a aula foi fluindo e me concentrava no comportamento daquele aluno "problemático". Ele não era o mais bagunceiro da turma e estava concentrado em um desenho. Desenhava bem e era reconhecido pelos colegas por esta habilidade. Enquanto isso a professora ia fazendo o cartaz com os seus ajudante e de vez em quando parava para chamar atenção de um aluno mais barulhento. Fui me aproximando do aluno que chamarei de Pablo e pedi para ver o seu desenho. Ele me mostrou meio desconfiado um belo desenho de uma mulher com os seios de fora e deu uma risadinha. Ele me disse que a Tia havia pedido um desenho sobre abuso sexual. Ri por dentro. Os alunos começaram a se aproximar de mim, uns me perguntaram se eu era do conselho tutelar, outros ficavam me mostrando o desenho que faziam ou o livro que estavam lendo. Fui interagindo devagar e derepente me vi em uma roda de crianças. neste meio tempo, a tia acabou o cartaz e fez a turma toda ler: "Abuso sexual, comete quem deveria proteger". A Professora começou um diálogo sobre o assunto que considerei muito pertinente sobre quem poderia cometer o abuso, como poderia fazer e como as crianças poderiam se defender. Todos ficaram atentos, pois parecia uma informação útil, presenciei com tristeza alguns alunos que retorciam as mãos e nem queriam ouvir o assunto, embora não podemos tirar conclusões é visível que o assunto faz parte da realidade de muitas crianças. A professora resolveu dar uns minutos para que os alunos conversassem antes do sinal bater. Foi a melhor parte da aula para mim. Pude conversar com vários alunos e eles começaram a fazer desenhos e a me dar. O mais engraçado foi um desenho que recebi de uma aluna. Ela apontou e disse: desenhei você. Era um gordinho de óculo! Guardei com muito carinho. O Pablo, o tal aluno.... também me deu um desenho com traços muito bem feitos de um dinossauro. Alguns alunos perguntaram se eu voltaria amanhã.... pensei bem que eu poderia, mas não podia prometer. Muitas crianças espertas, vivas e bem falantes. Bateu o sinal e todos saíram correndo e eu fui acompanhando atrás.
Cheguei no pátio e refleti: acho que o problema deles não é tão grande assim. São crianças como as outras e gostam de serem estimuladas e de aprender. Entretanto o problema e o dilema dos educadores é enorme. Respeito ainda mais os nossos educadores por ver de perto a realidade, mas pude sentir o desafio que temos de como fazer com que os alunos estejam novamente motivados a aprender. Uma coisa é certa, não será com encontros consonantais. Muitas professoras demonstraram no Simpósio algumas experiências vitoriosas, mas somente unindo forças poderemos ver mais possibilidades. Agradeço a rede municipal por me permitir viver isto, saí mais humilde e esperançoso na educação, mesmo sabendo que muita coisa precisa mudar.Vivendo e aprendendo.