segunda-feira, 28 de junho de 2010

Míriam Leitão relata sua emoção de ser homenageada em Caratinga


Reproduzo abaixo um email que a Míriam enviou à família agradecendo a homenagem que recebeu em Caratinga e relatando sua emoção. Achei que valia a pena compartilhar com vocês o sentimento dela. Pedi permissão e publico cópia do email.



"Hoje acordei cantarolando baixinho "maninha". ontem a noite, quando cheguei, chorei bastante.Em Caratinga fiquei firme. Meu jeito.Foi muito comovente tudo.Ter o nome escrito numa placa na Praça Cesário Alvim é forte. A frase na placa diz: "Para que nao se esqueça e nunca mais aconteça".Vi um filminho da minha vida, enquanto reencontrava os amigos e recebia os abraços das pessoas amadas da minha família. Sem palavras.Meus filhos não puderem ir, mas me cobriram de beijos via telefone. (Vladimir chegando de viagem longa, Matheus com os filhos doentes)Sérgio foi e ontem aguentou com carinho meu chororô e reflexões sobre o turbilhão de emoções.Beth fez um esforço incrível para estar lá.O Lysias fez canjiquinha e canjicão para nos receber na reunião da família.Claudio nos hospedou e fez uma reunião no sítio para os amigos se encontrarem depois de tantos anos.O grupo Cultura e Arte da qual a Ivana faz parte junto com o Nelson Sena, um historiador e autor da ideia original da homenagem, está fazendo um documentário para ficar na história da cidade.Na Câmara dos Vereadores o Pedro fez um discurso curto e lindo mostrando o DNA da família faladora.O Claudio que nos emocionou na Praça, ainda cantou Maninha pra mim na Câmara dos Vereadores.Um menino de 13 anos espontaneamente subiu na tribuna para dizer que nos definia com a palavra "persistência"e leu uma poesia que fez para nós.Quando cantávamos o hino nacional ver a minha sobrinha neta Julia com a mão no coração foi... difícil definir.Tudo dava uma sensação de mensagem passada para outras gerações..."para que nunca mais aconteça"."Até que ele foi embora Maninha pra nunca mais voltar" cantava o Claudinho e eu, no palco, meio envergonhada, pensei no arbítrio e disse:E a ditadura foi embora para nunca mais voltar.Uma revista chamada Memória da Resistência foi editada.O que a repressão chamava de Grupo Caratinga está hoje muito bem. Maria Sena, cineasta, Gustavo do Valle medico, Valtair, economista, Cindra, físico, Selma, antropóloga com doutorado na Inglaterra, Romário jornalista e presidente do sindicato dos jornalistas de Brasília.Então não é revanche que me mobiliza. Não me sinto vítima. Não carrego rancores.É a confortável sensação de que houve um momento decisivo e eu estava do lado certo, mesmo tendo um preço a pagar.Queria apenas ter tido a chance de dizer a Uriel e Mariana, que se preocupavam tanto comigo, o seguinte:- Hoje 40 anos depois na praça central da cidade meu nome está escrito. Deu tudo certo no final, queridos pais.Desculpem apenas os exageros da minha teimosia. Sei que os machuquei. Mas eu tinha apenas 17 anos e os tempos eram sombrios."